1– Arquitetura Divina
Confiança de hipoteca
Os anos passam rápido e deixam saudades de algo que poderia ser e não é.
Não é para mim e não é para os outros. (1). Igualdade? Em algo que não é para
ninguém? Não! E se não é para ninguém, tentar-se-á reinventar uma forma de ser
para alguém, ou para um grupo, isso é uma constante, pois que o ‘produto’, é
valioso, e isto terá um alto custo; o primeiro deles: o da falsidade, o segundo
da insubstância humana, pelo excesso de materialidade, que é a única forma,
copiativa do que não se alcança na alma, de se exprimir o falso belo; no
volume, na ostensividade, na forma de atração e adoração abjeta. Por mais que
finjam, para si mesmos e aos outros, que se conseguiu driblar a vida, o
sentimento de saudade, o sentimento daquilo que deveria ser e não é, só aumenta
ao ponto da loucura, vulgarmente entorpecida. Trabalhei todos os dias de um ano
e vários anos, me envolvi com minha família, me envolvi com a religião, me
envolvi na minha cidade, com o mundo. Fiz isso, e mesmo assim, continuo
sentindo que vivi a vida de outros, e que os outros, viveram a vida de outros e
assim, sem parar. Que maldita, ou bendita impressão é esta? Que nos faz ver em
capas de revistas sugestões do que gostaríamos de fazer, do que deveríamos
fazer e que nunca faremos e quando o fizermos, por um acidente da realidade,
nunca terá o mesmo ‘sabor’, da apreensão primeira! Será talvez um aviso, um
sinal, um alerta? E o que significa viver a vida? Poderia tentar responder isso
a mim mesmo dizendo que deveria encontrar um grupo de pessoas com as quais
pudesse compartilhar, o que sou com o que elas são, e quis interesses buscamos,
que são semelhantes e nos entretém a existência dignamente, num crescendo, como
escala musical, em busca de algo muito maior que nós todos, assim mesmo como
são os corpos celestes; pois que, só pode ser Divino! E se o é, devemos
expressá-lo em realidade de alguma forma: nas artes. Mas um grupo, me parece
tão pouco, tão ensimesmado, tão problemático quando comparado a outros grupos
possíveis e afetos a objetos da moda, da ideologia, da falsa filosofia, do
falso objetivo de vida, do mesquinho objetivo do falso poder. Mas mesmo assim,
em havendo um grupo, seria um bom começo, entretanto, onde encontrar estas
pessoas em cidades do interior? Pessoas desapegadas dos vícios que nos impõe os
homogêneos meios de comunicação, as instituições de poder, as instituições de
ensino, dominadas que estão por ideologias doentes ‘in natura’? Solidão, esta é
a síntese, quando me refiro à vida. Solidão e carência de algo muito grande,
que poderia ser e não é! Sinto falta de uma palavra amiga, de um gesto amigo,
pois que isso, parece haver sumido do planeta, ao menos com a sinceridade
silenciosa, ou sabias palavras, que lhes são próprias. No entanto, bastaria a
sinceridade. Compreensão e boa cumplicidade humana. Pois que houve um dia!; e
foi imitado, foi modificado, foi adaptado, pois que os verdadeiros eram poucos
e fracos; toda sua energia havia sido consumida graciosamente, dadivosamente,
em suas obras, que serviriam de referência ao mundo, quiçá o mundo quisesse! A
insinceridade, a agressividade, a desconfiança, tomou a alma das pessoas em
nome do bem viver, condicionalmente, aparentemente. Elas desconfiam antes para
não darem a chance a si mesmas de errarem ao confiar, e desconfiam depois,
quando acham que deveriam confiar e dar chances aos outros de se mostrarem
confiáveis, isso é uma condição, logo uma confiança de hipoteca: “odiai-vos uns
aos outros, até que se prove o contrário?; quem quererá prova-lo? ” Isso, é
maldição! O que é mais aconselhável para a alma?; confiar e ser traído; se isso
é possível, desta forma drástica e determinante, nesta lógica, em se crendo em
‘alma’ e Divindade, ou desconfiar por princípio e se transformar em juiz de uma
falsa razão, que tem por razão a aversão ao semelhante, que pode ser qualquer
um, mesmo que vista as melhores ou piores roupas; que tenha pouco, ou muitos
anos de vida.
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(1) havia uma saudade secreta, de
artista, dos tempos nos quais se dava – parecia – mais atenção à arte do que
aos negócios. (Otto M. Carpeaux, pg. 1437 H. Literatura Universal).
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