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As Origens do Wahhabismo
Raízes do
Wahhabismo
Ricardo
Gustavo Garcia de Mello
O Wahhabismo ou o Islam
sunita salafista é a principal doutrina de diversos movimentos e organizações
islâmicas: a Fraternidade Islâmica, Al-Qaeda, o Hamas, o Talibã, as “primaveras
árabes” e o Estado Islâmico (EI), mas muitos esquecem de citar o berço do
Wahhabismo, a Arábia Saudita.
A Arábia Saudita é
geográfica e espiritualmente o centro do Islam, foi lá onde o profeta e
fundador do Islam, Muhammad (570-632 d.C.), nasceu e morreu e é também na
Arábia Saudita que se encontra as cidades sagradas do Islam: Makkah (Meca) e
Madinah (Medina). Meca (Makkah) além de ser a cidade onde nasceu o profeta
Muhammad, 570 d.C., é o local onde Muhammad recebeu a revelação de Allah (Deus)
através do anjo Gabriel. É também o local mais sagrado do mundo para o
muçulmano porque é lá onde está a Kaaba, a casa do primigênio, ou seja, o berço
e a morada do primeiro ser humano na face da terra, Adão. Por isto que um dos
deveres dos muçulmanos é realizar orações diárias voltadas à Meca, o local da
Kaaba, e se o muçulmano tiver condições deve realizar a Hajj (peregrinação)
para Meca e assim poder ver a Kaaba.
Medina (Madinah) foi a cidade que o profeta Muhammad e seus seguidores
encontraram abrigo durante a Hégira (622 d.C), período de fuga de Muhammad e os
seus seguidores que se julgavam ameaçados de morte por pregarem o Islam. E além
disto Medina é o local da morte do profeta Muhammad, 632 d.C., e do seu túmulo.
Outros aspectos históricos fundamentais da Arábia Saudita têm suas raízes no
Wahhabismo.
A história da Arábia
Saudita e do Wahabbismo começa muitos antes do reconhecimento da Arábia Saudita
como Estado oficial em 1932. A gene da Arábia Saudita e do Islam sunita
salafista ou Wahhabismo inicia-se na aliança firmada entre os dois Muhammads.
Muhammad Ibn Abd al-Wahhab (1703-1792) que era um importante pregador (Dai) na
Península Árabe que alertava sobre o distanciamento dos muçulmanos da mensagem
original do Islam, devido a introdução da inovação (bid’ah) na religião e na
sociedade, levando a cometerem o crime de idolatria e politeísmo (Chirk). O
termo Chirk na tradução literal do árabe significa atribuir parceiros a Allah,
para o Islam atribuir parceiros é um crime de politeísmo e idolatria, Allah é o
único Deus verdadeiro Ele não possui parceiros. Sendo por isto necessário
purificar o Islam através do retorno aos princípios dos sagrados ancestrais
(Salaf). Salaf em árabe significa: sagrados ancestrais, termo também utilizado
como expressão honorífica para as três primeiras gerações de muçulmanos que
estavam do lado do profeta Muhammad e beberam o Islam na fonte, sendo os
legítimos sucessores dos seus ensinamentos e verdadeiros continuadores da obra
do profeta, Khalifa, e por isto que os salafistas necessitam instaurar o
verdadeiro Califado, ou seja, o legítimo Estado Islâmico. Para os seguidores
dos ensinamentos do sunismo Salafista denominá-los de Wahabbistas é um Chirk,
crime imperdoável de idolatria, eles se denominam de Salafistas, ou seja,
seguidores dos sagrados ancestrais. Devido aos seus ensinamentos foi expulso do
vilarejo onde morava até encontrar o abrigo político e militar no príncipe
Muhammad Ibn Saud. Muhammad Bin Saud (1726-1756) era o emir (chefe) da cidade
al-Diriyah e um dos líderes militares mais habilidosos e ambiciosos do deserto
que encontrou nas ideias de Wahhab as bases teológicas para legitimar o seu clã
como a Casa Real islâmica: Al Saud. Em 1744 Abd al-Wahhab e Bin Saud firmaram
uma aliança de sangue, o casamento da filha de Wahhab, Fatma bint Muhammad ibn
Abd al-Wahhab, com o filho e sucessor de Ibn Saud, Abdul al-Aziz. Tal aliança
de 1744 marca a origem da Arábia Saudita e do Wahhabismo.
Até hoje a aliança
entre a família real Saudita: Al Saud, a autoridade política e militar, e a
família Al-Sheikh de Wahhab, a autoridade religiosa e cultural, constitui o
poder da Arábia Saudita e do Wahhabismo. As famílias Al Saud e Al-Sheikh são as
famílias mais poderosas do Oriente Médio e ainda hoje mantém fortes laços de
sangue.
As revoltas no mundo
islâmico, as chamadas “primaveras árabes” que são na verdade primaveras
islâmicas Salafistas têm por objetivo reforçar o Islam e não lutar por um
Estado democrático, laico e republicano. A meta da primavera islâmica é
retornar ao princípio da autoridade Islâmica contra as deturpações e
inovações. Para o Sunita Salafista ou
Wahhabista a origem do mal está na inovação (Bid’ah), seja ela teológica ou
civil, por isto que todos os homens devem imitar o Fundador, Muhammad, o último
e definitivo profeta. A revolta contra a submissão à autoridade estabelecida
nos países muçulmanos ou em processo de islamização não significa uma crítica
ao Islam, mas um retorno ao princípio da autoridade islâmica. O princípio da
autoridade é o que legitima determinado grupo ou personalidade a comandar e
dirigir os demais, no caso do Islam é o princípio que qualifica um grupo ou
personalidade como Khalifa, ou seja, continuador/sucessor do profeta Muhammad e
faz do seu comando/governo, um Califado, que tem por missão conservar e
expandir o Islam pelo mundo. As autoridades ou os governos para os muçulmanos
são apenas personagens que devem copiar o modelo, profeta Muhammad. A concepção
do princípio da autoridade islâmica repousa na equivalência exclusiva do bom e
do bem com os sagrados ancestrais, os Salafs, tal equivalência implica conceber
os primórdios como a Idade de Ouro, onde reside tudo aquilo que é superior,
sendo o progresso uma reação à modernidade, o mal, e uma restauração dos
primórdios, o bem.
De acordo com a
introdução da obra The Life & the Aqeedah of Muhammad Bin Abdul-Wahhab
(2000) feita pelo Ministro da religião Islâmica da Arábia Saudita, Saleh bin
Abdul-Aziz Al-Ash-Sheikh, que é membro da família Ash-Sheikh da linhagem de
Abdul-Wahhab, o fundador do Wahhabismo. Resume algumas noções gerais do que é o
Islam Salafista.
“Islam, of course. is
based on fundamentals. In this sense. every true Muslim is fundamentalist,
because he upholds the fundamentals of Islam! In fact, every Muslim must be a
fundamentalist in order to be among those who will enjoy the mercy of Allah on
the Day of Resurrection.” [MURAD, 2000, p.V]
[O Islam, é claro.
Baseia-se em fundamentos. Neste sentido. Todo verdadeiro muçulmano é
fundamentalista, porque ele sustenta os fundamentos do Islam! De fato, todo
muçulmano deve ser um fundamentalista para estar entre aqueles que apreciarão a
misericórdia de Deus no Dia da Ressurreição.] [TRADUÇÃO]
“Shaikh Muhammad bin
Abdul-Wahhab was one of the most prominent scholars, supporting the Sunnah and
opposing bidah. He was an exegete, an authority in the science of Qur‘an and
Hadith (Prophetic traditions) a grammarian, a jurisprudential fundamentalist
and an rhetorician.” [MURAD, 2000, p.15]
[O Sheikh Muhammad bin
Abdul-Wahhab foi um dos estudiosos mais proeminentes, apoiou a Sunnah em
oposição à inovação na religião (bid’ah). Ele era um exegeta, uma autoridade na
ciência do Corão e Hadith (tradições proféticas) um gramático, um
fundamentalista na jurisprudência e um retórico.] [TRADUÇÃO]
“Imam Muhammad bin
Abdul-Wahhab did not work his way in by the sword. Rather. he dispatched his
messengers and letters to rulers and scholars, informing them that he was not
bringing a new religion, nor promoting bidah (religious innovation). He was a
Muslim who adhered to the Book of Allah and the Sunnah of His Messenger, may
Allah exalt his mention.preaching Islam as was taught to the Pious Predecessors
of the Muslim Ummah, (the first three generations of Muslims). The Imam fought
only to defend the dawah, and Allah. the Almighty, gave him victory over his
enemies.” [MURAD, 2000, p.19]
[O Imam Muhammad bin
Abdul-Wahhab não trabalhou seu caminho pela espada, em disso ele despachou seus
mensageiros e cartas aos governantes e eruditos, informando-os de que não estava
trazendo uma nova religião, nem promovendo a bid’ah (inovação religiosa). Ele
era um muçulmano que aderiu ao Livro de Deus e à Sunnah de Seu Mensageiro, que
Deus exalte sua menção. Pregação do Islã como foi ensinado aos Predecessores da
Omma Muçulmana (as três primeiras gerações de muçulmanos). O Imam lutou apenas
para defender a divulgação pacífica do Islam (dawah), e Allah. O Todo-Poderoso,
deu-lhe a vitória sobre seus inimigos.] [TRADUÇÃO]
‘Muhammad bin
Abdul-Wahhab cautioned the Muslims that their lagging behind, and degradation
were only the results of neglecting the teachings of Islam, He further
emphasized that progress could be achieved only by adhering to true Islam.”
[MURAD, 2000, p.19]
[Muhammad bin
Abdul-Wahhab advertiu os muçulmanos que os seus atrasos e a sua degradação são
resultado da negligencia dos ensinamentos Islâmicos. Ele enfatizou ainda que o
progresso só poderia ser alcançado aderindo ao verdadeiro Islam.] [TRADUÇÃO]”
“Indeed, Islam was
introduced to uncivilized people who became civilized with it, and were poor
and became rich. Muslims had strayed away the real Islam and Allah guided them.
They were fragmented and Allah unified them, and were ignorant and Allah made
them knowledgeable. They were staggering in the darkness of myths,
superstitions and polytheistic rituals. They were handtarfed by these practices
and exploited by Sufi leaders.” [MURAD, 2000, p.19]
[De fato, o Islam foi
introduzido a pessoas incivilizadas que se tornaram civilizadas com ele, e eram
pobres e se tornaram ricas. Os muçulmanos haviam se afastado do verdadeiro
Islam e Allah os guiou. Eles estavam fragmentados e Deus os unificou, e foram
ignorantes e Deus os fez conhecedores. Eles estavam cambaleando na escuridão
dos mitos, superstições e rituais politeístas. Eles foram manipulados por essas
práticas e explorados pelos líderes Sufis.] [TRADUÇÃO]
“Muhammad bin
Abdul-Wahhab did not bring a new religion, as cited earlier, nor did he
introduce new rites that are different those in the Qur‘an and the Sunnah.”
[MURAD, 2000, p.32.
Muhammad bin
Abdul-Wahhab não trouxe uma nova religião, como citado anteriormente, nem
introduziu novos ritos que sejam diferentes dos do Corão e da Sunnah.
][TRADUÇÃO.]
“The essence of the
dawah of Muhammad bin Abdul—Wahhab, or, ‘Wahhahism,‘ as his enemies call it, is
to worship Allah alone. And dedicate all acts of worship to Him alone. [MURAD,
2000, p.33]
[A essência da dawah
(proselitismo islâmico) de Muhammad bin Abdul-Wahhab, ou “Wahhabism”, como seus
inimigos o chamam, é adorar somente Allah. E dedicar todos os atos de adoração
somente a Ele.] [TRADUÇÃO]
O Wahhabismo ou
Salafismo sunita é uma das principais correntes da revitalização do Islam
presentes na crítica ao Ocidente, nos movimentos nacionalistas, nas
organizações terroristas, nas políticas públicas de doutrinação e no combate de
ideias, por isto que é suma importância compreender a sua natureza.
Principal referência
sobre as origens do Wahhabismo ou Salafismo.
MURAD, Mahamoud bin
Ridha The Life & the Aqeedah of Muhammad Bin Abdul-Wahhab, 2º Ed. Revised
Edition, Introduction by Sheik Saleh bin Abdul Aziz Al-Ash-Shaikh, 2000.
OBS: Neste livro A Vida
e o Credo de Muhammad Bin Abdul-Wahhab (2000) a introdução é feita pelo
Ministro da religião Islâmica da Arábia Saudita, Saleh bin Abdul-Aziz
Al-Ash-Sheikh. Ele é membro da família Ash-Sheikh da linhagem de Abdul-Wahhab,
o fundador do Islam sunita salafista ou Wahhabismo
Outras referências
Bibliográficas
EL-HAYEK Samir, Alcorão
Sagrado. São Paulo, Ed. Marsam, 1994.
PHILIPS Abu Ameenah
Bilal, Os Fundamentos do Tawheed: o monoteísmo puro. Tradução para o português:
Leila Ali Tassa e Revisão da Tradução: Samir El Hayek, 2008, Brasil .
PHILIPS Abu Ameenah
Bilal, The Fundamentals of Tawheed: Islamic Monotheism, 2ª ed. Riyadh, 2005. Arábia Saudita
STRAUSS Leo, Reflexões
sobre Maquiavel, É Realizações, 2015
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